quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Adieu

Seu olhar era lânguido. Sua presença, quase imperceptível. Mas era assim que queria. Gostava da mágica possibilidade de ser invisível, e de poder olhar com os olhos de quem vê, e julgar com latente impiedade. Quando secamente se dirigia a alguém, sentia-se como a mais calculista das mulheres, que com uma única fitada domina um homem por tempo indeterminável.

Nunca esqueceria daquele, que friamente despedaçou seu coração e a fez desacreditar do amor, que pensava ter conhecido. Mas seria ele o real motivo de sua desistência da felicidade? Ou preferiu ela se agarrar à desilusão, para justificar o que já se encontrava nas entranhas e então poder gritar ao mundo sua desgraça? Não saberia dizer. Nem ao menos se indagava.

Olhava o crepúsculo. E ficaria eternamente ali, se não tardasse a anoitecer. Foi quando de repente seus olhares se cruzaram. Como a sombra encontra a escuridão. A busca para dentro de suas almas, caça e fuga concomitantes. O tempo já não se contava em segundos, como a areia da ampulheta que paralisa no ar. O espaço se resumiu a vácuo. E olhavam-se, como se nunca tivessem se visto. E como se a familiaridade daquele olhar nunca a tivesse deixado. E, súbito, seus olhos já não se voltavam mais para ela...

Partiu, e também o Sol. Eternamente.

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